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Mensagens

A mostrar mensagens de 2015

Muito açúcar, poucas remelas!

Hoje levei a manhã a pensar em como o meu mundo é pequeno. Ou será dos meus olhos? Desta miopia que teima em voltar! Esta ideia bateu-me à porta no meio de uma aula sobre cobras venenosas. E agora que já tenho a vossa atenção, passo a explicar.  Durante as minhas duas últimas semanas aqui na Índia estou a fazer um curso de Medicina Tropical, o que é uma oportunidade excelente de sedimentar tudo o que vi e aprendi nos últimos tempos. O grupo de professores é de grande qualidade, tudo gente com muita experiência e de vários países, assim como os alunos. Começámos na segunda-feira com a velha e boa malária, a ceifar vidas desde… sabe-se lá, há tanto para fazer, mas há melhorias, há esperança. E, por aí fora, fomos navegando o mapa dos trópicos, os parasitas, as diarreias, as crianças que não chegam aos 5 anos, as doenças que não têm medicamentos porque não afetam as pessoas “certas”. Como por exemplo, a doença do sono. Não, não é o cansaço que todos sentimos por não dormirmos tudo

Os corredores da pediatria

Esta semana andei pela infeciologia pediátrica. Já não via crianças na consulta ou na enfermaria há muito tempo, resultado: andei a maior parte do tempo de coração encolhido, espremido na tentativa de manter os olhos abertos e acabar com a visão em túnel. As crianças aqui são mais pequenas, enfezadas, a tisica, o arroz sem mais nada, a lombriga e o resto dos parasitas intestinais, o muito que correm, tudo isto dá em crianças magras, baixinhas, olhos encovados, imunidade frágil, portadoras de doenças que nunca me tinham passado pelos olhos, quanto mais pelas mãos. A semana foi assim, cheia de coisas novas, umas mais duras do que outras, apimentada de sorrisos curiosos e bebés magrinhos! Lembro-me de duas meninas na consulta, irmãs, muito parecidas, olhei para elas e pensei devem ter 6-5 anos, elétricas, não pararam quietas, tantas perguntas num inglês simples que fui entendendo com ajuda, interessadíssimas em conhecer-me, em tocar-me e sem vergonha até um beijo na face me ro

A courgette tem uma prima na Índia!

  São 8h da manhã. O silêncio inunda a sala, lá no fundo ouve-se o barulho da ventoinha e cá no fundo é difícil não ouvir a confusão dos pensamentos. Aconteceu tanto nestes quase 2 meses que será difícil encaixotar, fazer malas e partir, desconfio que depois desta experiência haverão coisas que nunca mais irão embora, ficarão… farão morada! Espero que sim. Então enquanto espero pelo início da consulta, oiço o meu fundo, observo os dias que passaram e tento passar para este caderno laranja o que é passível de partilha. Passaram duas semanas desde o último texto, cheias, recheadas de aventuras e desejo de aventuranças. No outro dia, dei comigo num jantar do serviço em casa da chefe, ofereci-me para preparar um prato, mostrar a gastronomia portuguesa e, finalmente, comer o que gosto! Mas, como tudo na Índia, foi extremamente difícil! Primeiro, tinha de ser vegetariano, dadas as especificidades alimentares da religião, depois tinha de encontrar os ingredientes. Acabei por faze

Ainda a procissão vai a meio…

Falta metade! E é caso para dizer o pior já passou. Esperemos! O dia alongou-se, cheguei ao hospital às 8h e vim no autocarro das 19h30, um dia destes habituam-se e ainda me metem a fazer urgências de 24h. Por falar nisso, tenho umas certas saudades de fazer urgência, saudades da equipa, das loucuras da sala de reanimação, saudades de estar em casa (o hospital também conta como casa, uma espécie, um sótão!). A viajem para casa foi gira, já tinha escurecido e a cidade transformou-se. Sentadinha no banco do autocarro, entre solavancos, assisti em “primeira classe” ao espetáculo noturno, as famílias cá fora, as barraquinhas de comida apinhadas de gente, homens a beber chá na beira da estrada, veículos de todos os tamanhos e cores em cima uns dos outros, luzes coloridas penduradas sem preocupação aos cantos, nos toldos, onde houve lugar, a música estridente e alegre, as buzinas de vários timbres, eu… e um sorriso estampado. Os pensamentos voam, lembro-me do dia que passou, tão c

Coisas boas?

Hoje o dia correu bem! Tenho a sensação de que quando finalmente estiver habituada e me sentir um bocadinho em casa, chegou Dezembro e é tempo de fazer a mala! Os dias muito bons aqui são raros, mas têm vindo a aumentar de frequência! Então decidi trazer-vos, a vocês e à velhota pessimista que vive dentro de mim (numa cadeira de balanço com gatos) as coisas boas desta terra! Lembro-me de ter feito isto na Guiné talvez o leitor imaginário se lembre e na altura ajudou-me a pôr as coisas em perspetiva, na maioria das vezes é mesmo isso, uma questão de dioptrias e de degraus. Então hoje subimos juntos aqui à montanha de Vellore, olhamos cá para baixo e observamos o top 5 cá da vila! 1.   Os fungos! A sério, aqui as pessoas têm infeções fúngicas como nunca imaginei! É lindo (ponto de vista do infeciologista: é espetacular, é brutal, tira uma fotografia por favor!). Passo a explicar, o Sr. Kumar (equivalente de Zé António) tem uma impressão na perna de alguns meses a esta parte e,

Passou um mês!

Passaram muitas coisas. Todos os dias há uma avalanche de sentimentos que destrói, destrói e depois constrói, todos os dias. A Índia é um sítio difícil para viver! Demasiado calor, demasiado pó no ar, há picante em tudo o que está no prato, buzinadelas constantes e ensurdecedoras e há a diferença e a distância cultural. Não é mau, é diferente! Ainda agora, 5 minutos antes de começar a escrever, enquanto estou sentada à espera do médico para irmos ver os doentes, está um homem em pé a 1 metro de distância de mim, a olhar-me fixamente nos olhos, tempo suficiente para eu reparar, olhar rapidamente para confirmar, baixar o olhar e pensar: “O que é que acontece se eu fizer o mesmo?” E olhei para ele olhos nos olhos… A ver quem ganha! Depois de segundos que pareceram largos minutos ele desviou o olhar, e eu pensei: “Desconfortável, não é? Toma lá que é para aprenderes!” Mas afinal aprender o quê? O conceito de espaço pessoal? É tão diferente! É tudo tão diferente! Estas diferenças qu

O 1º dia de escola

As férias estenderam-se mais uns dias. Memoráveis. Lembranças que vão ficar connosco para sempre. Não necessariamente pelo luxo ou pelo conforto do descanso, mas pela companhia que com o passar do tempo se torna cada vez melhor. As conversas salpicadas de silêncios confortáveis, de observações quase sempre fora do contexto, de passeios de mota à chuva no meio da floresta, de quedas de mota e joelhos esfolados (cotovelos, ombros e mais houvesse!) numa ilha espetacular, de horas e horas passadas em todo o tipo de transportes públicos, dos insólitos (adoramos o insólito), tudo isto transformou este tempo de férias num grande depósito de felicidade!  Foi com o saco cheio destas aventuras que ele se foi embora e eu fiquei! Fiquei para dar início a outro tipo de aventura, um solo que pode parecer loucura. Talvez seja. O que é que estás aí a fazer? A resposta mais honesta é que estou aqui para aprender. Crescer. A ver se acrescento alguma coisa a este coração míope e ao léxico do di

As montanhas, a mota, e o … do elefante!

Alugámos uma mota! Yeah! Com o nosso próprio meio de transporte deixamos de estar à mercê da indústria do turismo local com as suas excursões e pacotes sensacionais, assim podemos fazer o nosso itinerário, poupar dinheiro e chatice. Queríamos ver os elefantes, os tigres, as quedas de água da imponente “rainforest” de Chiang Mai… queríamos ver tudo e em poucos dias, porque as férias são curtas e a Tailândia é grande! Capacetes apostos lá fomos montanha a dentro! Lindo. Exuberante. A natureza explodiu ali e não contou a ninguém. A viagem de mota foi acompanhada de saltos e solavancos no meio da expressão repetida em desabafo: “Ai que sorte! Ainda bem que viemos!” E os elefantes? Encontrámos uma placa com um elefante pintado, fomos lá. Afinal não era bem um campo de elefantes, era na verdade, verdadinha, um sítio de reciclagem de resíduos elefantídios do foro intestinal, portanto, reciclavam cocó! Cocó de elefante! Verdadinha, já tinha dito! As criaturas (de mente verde e ec

As banananinhas de Chiang Mai

Deixámos Bangkok em direção ao Norte da Tailândia, Chiang Mai. Com uma ideia em mente desde Lisboa: descansar, sem grandes planos e itinerários, parte da aventura é mesmo isto, ir descobrindo à medida que vamos andando, sem saber os pontos de paragem, tendo apenas em mente o voo para Bombaim no fim do mês. Chegámos no início da tarde a um “belo” quartinho virado para a estrada principal (desta vez o colchão era melhor), o chamado preço-qualidade satisfatório. Moída de mais uma viagem e de noites mal dormidas, contudo com vontade de ver e cheirar a nova cidade e diga-se cheia de fome, lá fui eu sozinha em busca dos misteriosos encantos e lanches desta terra. Sozinha porque a nossa linda equipa tinha um membro cansado e cheio de sono… lá fui à procura de qualquer coisa que se comesse! A ideia era virar à direita no fim da rua e ir em frente. Fui, encontrei um batido de manga e ao voltar pelo mesmo caminho, avistei uma agitação levemente compatível com um mercado! Ai, o que é

Bangkok: uma sopa e uma esquina.

Continuamos em Bangkok! Estou a gostar, principalmente da novidade. Sabe-me bem olhar à volta e ver o desconhecido, as pessoas, os edifícios, as bancas de fruta, o trânsito… Gosto disto! Claro que estou aqui e volta e meia estou na Índia numa espécie de presságio, num sonho antecipado, num agridoce de quem não sabe para o que vai, um desejo com dois pés atrás, porque um é muito pouco! Depois olho à volta e digo para mim mesma (dada a ausência de botões, o que é uma grande chatice nestes momentos de introspeção) aproveita as férias, aproveita a anestesia da evasão, desfruta! E a Índia volta para a sua gaveta e o passeio continua! O problema desta tentativa de organização das ansiedades e dos “nervos” foi uma esquina de Bangkok. Numa noite quente e húmida bem ao estilo asiático, com a boca ainda dormente depois de ter comido uma espécie de sopa de peixe e marisco, maravilhosa, uma explosão de sabor, espetacular, mas picante que doía, doía, ardia, e no fim ficou a dormência do n

Às voltas por Bangkok !

Já fez uma semana que aterrámos em Bangkok (ou Banguecoque)! Passou uma semana mas tenho a sensação que estou aqui há uma infinidade de tempo. Não sei porquê, desconfio que tenha que ver com a intensidade da descoberta e a quantidade de coisas insólitas que nos têm acontecido! Chegar a Bangkok foi um custo! 27h entre aviões e escalas. Parámos em Bombaim e o meu coração míope bateu mais forte e depois encolheu-se, encolheu-se numa sístole prolongada e esmifrada, respirei fundo, ri-me de nervosa e balbuciei... São 3 meses… 3 meses inteiros! Mas desta vez foi só uma escala prolongada e uns quantos carimbos no passaporte. A Índia está para vir, isto foi só um cheirinho, um cheirinho cheio de ar condicionado e comida ocidental (não te habitues!). Depois veio Bangkok! Mal falada e mal fadada Bangkok. Ouvi de tudo, cidade terrível e confusa, cheia de prostituição, degradante e mal cheirosa, templos e budas e pouco mais! Estivemos 4 dias lá e vi pouco do que me contaram e muito

Partida, " Lagarta", Fugida!

Cá vou eu.. cá vamos nós! Rumo ao Oriente! Faltam 7h para o avião partir.. a mala ainda não está feita (em processo!), falta arrumar meia dúzia de coisas.. ideias e emoções incluídas! A mala é pequena! É sempre pequena! Pequena para guardar a roupa, os livros (contei 10!) e o medo, medo bom e medo mau.. medo do desconhecido e medo desconhecido (para os momentos que sei que tenho medo mas não sei de quê), mas levo mais que medo! Levo "Ganas"- uma vontade visceral de aprender, de crescer, de ser relevante! Vontade de viver os sonhos.. aqueles.. (silêncio!). E é assim que vamos... A aventura começa em Bangkok num registo de descoberta e de férias, e depois sim..o prato principal... A Índia e o hospital! A Índia, o hospital e a Bianca! Bom.. a mala já está feita! Leitor imaginário conto contigo para mais uma aventura, para a partida não falta muito, quanto à "lagarta" no fim da viagem contam-se as borboletas, espero que não seja preciso a "fugida"!!