Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de 2010

"Panaceias & copinhos de água"

“Panaceia” - esta palavra não me sai da cabeça, há dias que anda aos gritos dentro de mim, oiço-a por todo o lado, nos meus sonhos, nos meus esforços, na minha rotina e quando abro a janela do meu mundo, ela está do lado de fora a dizer-me : - “Adeus”- com um sorriso rasgado. Se for ao cinema ela é a actriz principal, se prestar atenção às letras das canções é sobre ela que cantam, se perguntar ao senhor importante qual a razão das suas horas extraordinárias ele vai dizer em voz off : - “panaceia”, e se interrogar a senhora que limpa as escadas do meu prédio ela vai dizer que: - ” A razão, oh menina, a razão tem um nome – panaceia! E afinal o que é que significa esta palavra? Bom, no grego e para os gregos ela representa “ a cura de todos os males”, uma espécie de milagre, de super tónico, um espinafre ultra poderoso! Mas aqui para nós (e já que ninguém nos ouve) ela terá outras irradiações, comecemos pelo cinema, em Hollywood panaceia quer dizer Romance, mas uma coisa de qua

Guiné: “O pós e o pó”

Passaram 63 dias… tantos como os que passei na Guiné… E só agora é que me sinto preparada para escrever sobre os que passaram e os que passam, sobre o “pós Guiné” e sobre os pós que me ficaram na alma, nos olhos, nas unhas… Desculpem-me se vos desiludir, é possível que o que vão ver aqui escrito não corresponda às vossas expectativas, até porque também não correspondeu às minhas… Imaginei o regresso a casa, várias vezes, tentei contabilizar as saudades que teria da Guiné, das pessoas, do trabalho, fiz previsões sobre como me sentiria, como seria estar cá e não lá, depois de um período que me pareceu gigante… E finalmente cheguei a Lisboa! Não chorei! Não quis voltar para trás! Adorei a viagem para casa, adorei o facto de haver alcatrão na estrada, delirei com o elevador do meu prédio, com o interruptor da luz, com a torneira cheia de água, com o copo de água fresquinha que bebi sem ter de lhe juntar lixívia, com a comida, com o pequeno-almoço fantástico que estava em cima da mesa…

Dia 64_ “O meu último dia na Guiné!”

Daqui a umas horas o avião partirá com destino a Lisboa. E assim se fecha um capítulo desta viagem, sim porque faço parte daquele grupo de pessoas que teima em achar que está sempre de viagem…ou de passagem, como gostarem mais! Rumo… rumo a um mundo melhor! Foram dois meses cheios de aventuras, trouxe uma mala cheia de sonhos e agora levo duas…cheias, a transbordar, com sonhos, com experiências, com amigos e com umas quantas prendas! Mas, sobretudo, com vontade de continuar esta “epopeia” como um dos leitores lhe chamou, porque estar consciente, orientada e colaborante não se prende com a latitude, mas com a atitude (olha o slogan…!)! O que vale é que a balança do aeroporto de Bissau está avariada e assim não há excesso de peso para ninguém… ai Guiné, Guiné! Mas antes de fechar a mala, há que agradecer a todos vocês que estiveram desse lado e que me fizeram sentir que não estava sozinha, a vossa companhia apareceu de várias formas, uns leram as minhas histórias, outros escreveram comen

Dia 62_ “O Capuchinho Vermelho & Beri-Beri!”

Esta é a minha última noite em Bolama, amanhã vou para Bissau e depois para casa! Entretanto, passaram 2 meses e com eles um sem número de experiências e de vivências, e parece-me que só quando a “poeira baixar” é que darei conta de muitas delas e das suas consequências em mim, na minha maneira de encarar a realidade, nos meus sonhos, na minha cabeça. Ao longo de todos estes dias fiz um esforço para (ao estilo do lobo do Capuchinho Vermelho) ver melhor, ouvir melhor, cheirar melhor, tocar melhor, saborear melhor… e assim aprender mais e melhor! Aqui “não aprender” era quase impossível, a realidade, por vezes chocante, por vezes violenta, por vezes agradável, entrou-me pelos olhos a dentro e teimou em fixar-se… talvez no coração, talvez na pele, talvez num circuito neuronal… o tempo o dirá! E hoje, mais uma vez, descobri que ir para lá do óbvio é mais do que uma coisa bonita é uma obrigação, em todas as áreas da vida. Aliás se há coisa que tentei praticar nestes dois meses foi uma “atit

Dia 58_ “Os mitos da África”

O meu estágio está quase a acabar, em breve voltarei ao meu “mundo” que agora já não é o mesmo, até porque espero já não ser a mesma, se não tudo isto teria sido um grande desperdício de tempo e de recursos. E é em jeito de conclusão (provavelmente, uma de muitas) que hoje decidi escrever sobre os mitos que existem sobre “a África”, sendo que só nesta expressão reside um erro gigante, porque não há “a África”, mas as Áfricas! Várias, diferentes, cada país, cada região, cada povo tem uma identidade, não se pode pôr tudo num mesmo saco e dizer com a entoação dum turista a cheirar a repelente, besuntado em protector solar e calções de linho “na África” é assim ou é assado! Só a ignorância poderá não perceber as diferenças. Comecemos então com um dogma muito famoso: - Na África (sintam a ironia!) há muita fruta e boa fruta! Ele é mangas, papaias, goiabas, bananas, etc. Bom, estou cá há dois meses e nem vê-la, quanto mais comê-la! Por aqui, a expressão “fruta da época” tem realmente si

Dia 55_ “ silêncios e noites mal dormidas”

O dia começou com uma viagem de canoa para S.joão, onde vamos uma vez por mês dar assistência médica e trabalhar com a comunidade temas importantes, como planeamento familiar, nutrição, tratamento da água, entre outros. Demos consulta em duas tabancas, e vimos de tudo um pouco, desde gente muito doente com pneumonia, gastroenterite grave, malária, a gente saudável que nem uma alface (o ícone das coisas saudáveis), mas com muito medo de estar doente e muita vontade de ser vista pelos “brancos” e estes são os mais difíceis de tratar… como aquela senhora que quando lhe perguntei a idade me respondeu que tinha 140 anos (bom…) e que se queixava de dores no corpo e cansaço: “pudera com essa idade!”, lá levou uma pomada para acalmar a passagem do tempo, um verdadeiro creme “ anti age ”! O dia chegou ao fim, tranquilo, com tempo para ver o pôr-do-sol e ler “Os cus de judas” do Lobo Antunes e foi no meio da descrição fantástica que ele faz da guerra de Angola que me chamaram, porque havia

Dia 48_ “de vez em quando sinto-me em casa”

Esta foi a minha terceira viagem à ilha das galinhas (e última…ai!) e aconteceram muitas coisas interessantes, como a história do tio João e da seringa “en garde” na luta contra a pneumonia, como ter aprendido a pôr soro nos doentes (bom… não acertei na veia à primeira, mas o que conta é participar!), como ter comido Korn bife a todas as refeições, como ter apanhado um sem número de chuvadas em cima e… E era aqui que eu queria chegar (tudo técnicas para criar suspense ), ter participado num acampamento de jovens cristãos vindos de toda a Guiné, e isto sim foi bem interessante! Pelos vistos, este acampamento acontece todos os anos na ilha das galinhas, juntam-se uns 250-300 jovens vindos de várias igrejas protestantes de toda a Guiné, para uma semana de convívio, reflexão e descanso. Caso sejam frequentadores assíduos aqui do “tasco” devem ter lido uns comentários feitos por alguns dos leitores não imaginários (até custa a acreditar que os há!) que diziam que neste acampamento de jove

Dia 47_”O que é demais tem cheiro…”

Voltámos à ilha das Galinhas! E a palavra “exagero” não me sai da cabeça, trouxe-a comigo e vou guardá-la na mala à prova de água e de tempo, porque ela sozinha consegue resumir toda a minha experiência na ilha e no resto da Guiné! E antes de franzirem a testa e de acharem que eu é que estou a exagerar, deixem-me explicar. Comecemos de cima para baixo, pelo céu desta terra, que é exageradamente lindo e impressionante, as estrelas brilham mais e melhor e a lua (ai a lua!) é avassaladora, o pôr-do-sol tem mais cores e texturas do que alguma vez me ensinaram. Neste céu tudo é gigante, cheio de beleza, tudo faz arregalar os olhos de alguém que, como eu e como nós, se habituou a olhar para o céu da janela do 5ºandar enquanto tenta evitar os postes de electricidade, os prédios vizinhos e a publicidade do próximo candidato. Ainda vinda do céu temos a chuva e por aqui quando chove, chove a sério, o dia todo e em quantidades industriais, não é aquela “chuvinha molha parvos”, não se brinca s

Dia 44_ As assimetrias

A semana correu com tranquilidade, o sossego necessário para as reflexões, ninguém consegue pensar ou pelo menos ir longe nessa caminhada quando o relógio passa de indicador a inquisidor. Talvez por isto, hoje não vos trago um episódio ou um acontecimento marcante, mas alguns traços do dia-a-dia que por aqui se vive e que podem ou não dar origem a algumas conclusões interessantes, dependerá do tempo que tivermos disponível… Comecemos pelo modo como as pessoas se cumprimentam: -“Bon dia!kumo é ke bu manse?” - “Bom dia! Como é que acordaste?” – interessante, por aqui não se pergunta se dormiste bem, mas se acordaste bem, afinal é mesmo isso que importa! Depois segue-se a pergunta : “Kumo é di Kurpo?” – “Como é que está o teu corpo, como está a saúde?” – num sítio onde a esperança média de vida anda nos 45 anos a questão do corpo ganha uma importância que do nosso lado da janela é difícil de compreender. A angústia não reside na pele casca de laranja, nos cabelos brancos, no perím

Dia 37 (à tarde) _“vesgos e esquecidos”

Continuo a contar-vos a história do meu 37º dia por terras Guineenses, por aqui há dias compridos que merecem 2 entradas no “tasquim”. O “toca-toca” chegou a Bissau às 15h, eu já estava com uma certa fome (adoro a especificidade da língua portuguesa, não há nada pior que ter uma fome incerta) e ia almoçar sozinha, porque o outro membro da equipa estava com febre e ia descansar para o hotel (passado umas horas descobriu-se que a febre era malária…ai… que eles “andem” aí! Bom, espero que a mefloquina não se esqueça de fazer efeito, é que para a quantidade de vezes que sou picada…). Recomendaram-me um restaurante que era barato e tinha umas espetadas muito boas, lá fui eu, à procura da “mana Bucha” , encontrei uma espécie de garagem escura e vazia, mas com a porta aberta e uma senhora a lavar roupa num grande alguidar! Era o sítio certo. Não estava fechado, mas hoje só fazia comida para levar, ora se eu levasse era para comer ali à porta, sentadinha nas escadas até porque estava a chov

Dia 37_ “Toca- toca” a lutar contra um coração míope – parte II

Hoje foi dia de andar de “toca-toca” que é um transporte público, uma carrinha de 9 lugares (com uns bancos laterais), que faz longas distâncias e que é mais barato do que andar de táxi! Apanhei um “toca-toca” com destino a Quinhanmel, lá fui eu mais um membro da equipa, mais 24 pessoas (que eu contei!) que foram entrando ao longo do caminho, tudo dentro da mesma carrinha, a tal de 9 lugares, com as portas de trás abertas e gente empoleirada até ao tecto. Foi lindo, 50 minutos de viagem, ligeiramente apertada (!), ao som de música africana e com as pessoas do carro a cantarolar e tudo! O objectivo era visitar o centro do Desafio Jovem na Guiné, sabia que era em Quinhanmel e não tinha mais indicação nenhuma…. Estamos na Guiné, improvisa-se! Perguntei às pessoas do “toca-toca” se sabiam onde era um centro de recuperação de drogados ao que uma senhora depois de eu ter tentado explicar mais do que uma vez no meu crioulo “todo o terreno” me pergunta com muita entoação : “ké, centro de Dúd

Dia 35_ as lutas de um coração míope

Voltei a Bissau, os próximos dias serão de descanso e de “turismo”! Por aqui, as ruas continuam sujas, esburacadas, escuras… Feios, porcos e maus! Mas isso toda a gente vê, eu cá queria ir para lá do óbvio, e claro, vocês estão convidados a embarcar nesta “visita de estudo” : Bissau e os seus encantos! Comecemos pelo alojamento, podia ter ficado num hotel com ar condicionado, duche quente (ai saudades!), croissants ao pequeno-almoço e wireless . Mas não, a estudante que há dentro de mim e que me cuida das contas disse que não! Então fiquei na D.Berta ou pensão Central como diz o Lonely planet (sabiam que havia um para a Guiné Bissau?!), sítio simpático e em conta, sem água canalizada e com luz só às vezes, mas com uma caminha boa e lavadinha… que me deu trabalho a conseguir, nesta terra tudo exige negociação! Cheguei à D. Berta lá pelas 16h, depois de uma viagem atribulada de canoa desde Bolama, estava toda molhadinha e com vontade de descansar. Pedi um quarto e perguntei pela D.

Dia 29_ “top 10 de Bolama”

Ao reler algumas das coisas que fui escrevendo aqui no “tasco” (modo carinhoso de apelidar esta plataforma de comunicação) fiquei com a sensação de que quem leu as minhas histórias poderá ter ficado com a ideia de que tudo aqui é difícil, pesaroso e que vou todos os dias angustiada para a cama! Mas não! Por isso, e com o objectivo de repor a verdade e a justiça, hoje não vos trago uma história, mas várias. Hoje a nossa viagem é ao “top 10” cá da terra, as 10 maravilhas, aquilo que faz desta missão da AMI uma missão “muito bonita” citando uma grande autoridade em missões de desenvolvimento. 1. 1. 1. O céu! A sério é qualquer coisa de divino, há coisas que nem as fotografias podem testemunhar e as noites de lua cheia em Bolama são uma delas. A contemplação ganha pontos por aqui. 2. 2. 2. A rã que canta debaixo da minha janela todas as noites a horas incertas. Na primeira noite foi estranho, confesso… mas agora faz parte do encanto. Adormecer a ouvir a rã e o seu

Dia_20 “A vida é dura para quem é mole…”

O dia começou soalheiro numa tabanca chamada “Madina” e a D. Domingas foi ao mato buscar um legume para o almoço, nada de especial até aqui, a vida corria sem percalços, um dia normal na vida de uma mulher Guineense! Mas, e há sempre um mas… Há 4 espécies de cobras venenosas nesta região! Há muitas cobras na época das chuvas! Há mato! Há azar na vida… Há um pé que é mordido por uma cobra! Pede-se ajuda… liga-se para a AMI! Vamos a correr. A viagem de jipe parece interminável, tentamos definir um plano de acção para quando chegarmos ao destino não perdermos tempo. Chegamos a Madina, toda a aldeia está em alvoroço, há olhos cheios de esperança, talvez “os brancos” tragam a solução… A senhora vem meio inconsciente, é trazida por 4 homens até nós, improvisa-se uma sala de cuidados intensivos na parte de trás do jipe. Há gente por todo o lado! Avaliam-se os sinais vitais… o pulso mal se sente! Entrou em choque! Ouvimos o batimento cardíaco ir embora… e levar com ele a esperança de ter sid

Dia_9 : O primeiro dia de consultas na Ilha das galinhas…venham daí!

Primeiro, um pequeno tour pela tabanca (leia-se aldeia), imaginem um povoado com muitas palhotas, muitas crianças a brincar na rua e, como não podia deixar de ser, muitos animais “domésticos” soltos. Bom…um “doméstico” dentro do género, claramente, não eram peixinhos dourados, caniches encaracolados ou hamsters a correr em rodas gigantes, nesta terra as coisas têm de ter uma utilidade e enfeitar não é uma categoria a preencher! Deixemos as explicações antropológicas e passemos às “ruas” da ilha, ora, a pastar, roer, esgravatar, vemos cabras, galinhas, porcos, vacas, alegremente soltos e à solta, sem eira nem beira…bom para eles, péssimo para a saúde! Ups, pois é, estamos aqui para saber como correram as consultas na ilha das galinhas! Começámos às 9h acabámos às 15h, neste intervalo o meu crioulo cresceu exponencialmente (ah pois, uma pessoa tem de se adaptar! E cá em casa há um livro de iniciação ao Crioulo da Guiné que já li até ao fim e fiz os exercícios!). Entre frases mal compreen

Dia_8

O primeiro “ cagaço ” na Guiné! Começo por pedir desculpa pela rudeza da expressão entre aspeada, mas tinha de ser, qualquer outra palavra não faria justiça ao acontecimento em causa! Tudo começou numa bela manhã de sol, enchemos a canoa com tudo e mais alguma coisa para levar numa viagem de 3 dias à ilha das galinhas, onde vamos uma vez por mês prestar assistência médica. Quando aqui se lê “tudo e mais alguma coisa”, leia-se: colchões, uma mota, caixas com medicamentos, malas e mais malas…e nós, os AMI´s! De Bolama às Galinhas são cerca de 2h de canoa…bom, nós levámos 5h… lá para o meio da viagem começou a chover, e a palavra Marão passou a ouvir-se demasiadas vezes por minuto…Bom, a minha inconsciência e o gosto que desenvolvi pelos barcos nas poucas aulas de vela que tive, levaram-me a não dar importância ao tamanho das ondas e ao modo pouco harmonioso com que estávamos a andar, confesso que estava a gostar imenso da viagem, da velocidade, do vento… da adrenalina! Às tantas ouve-se

Dia_5

Bissau & a corte portuguesa Voltámos a Bissau, vamos ficar até sábado. Estar pela primeira vez num sítio aguça-nos os sentidos… é delicioso! Dou comigo atenta, desperta e de olhos bem abertos para tudo o que se passa à minha volta, talvez por isso, esta estadia em Bissau esteja a ser tão interessante. E há detalhes muito engraçados por aqui! Por exemplo, em Bissau junta-se a “corte portuguesa” residente na Guiné, ele é ONG´s de tudo e mais alguma coisa, pessoal da embaixada, união europeia, nações unidas, e a malta junta-se nos 2 ou 3 restaurantes portugueses que existem e toda a gente se conhece, é uma espécie de “micro clima” étnico onde se fala português e se come bife de vaca (ah pois, ontem foi certinho!). À noite, fui a uma festa de despedida de um rapaz que vai voltar para Portugal, bom… nunca o tinha visto só sei que trabalha na ONU, mas sem stress! Festa é Festa e Tugas são Tugas…então como o pessoal ia, fomos todos… colei-me!! Comida boa, música para dançar…maravi

Dia 4_o hospital:

Hoje, fomos ao hospital, a ideia era passar a visita à enfermaria com o médico de serviço (que é o único médico deste arquipélago). Imaginem um edifício velho, muito sujo (mas mesmo muito), com janelas pequenas e muito escuro (porque de dia não se ligam luzes e de noite duvido que as liguem), rodeado por uma espécie de jardim por onde deambulam várias espécies animais, tais como: Cães e respectivas pulguinhas e outras menos “inhas”, porcos e seus parasitas que têm preferência pelo organismo humano e, claro, bactérias e fungos de todas as qualidades e feitios! Bom… pintem o quadro pior que conseguirem… andará longe da realidade! Haviam 5 doentes internados, todos com diagnóstico de malária, a acuidade diagnóstica aqui passa pelo: “tem febre? É malária!”, bom passa por lá e não vai muito mais além… Quanto ao HIV, cuja prevalência na Guiné se desconhece mas crê-se elevada, hoje o médico enquanto explicava o caso de uma doente, disse entre-dentes esta doente vai fazer um teste que aqui

Os primeiros 3 dias

Estou em Bolama! E por estas bandas, aprende-se muito e experimenta-se coisas novas todos os dias (e ainda só passaram 3), por exemplo: Como viver numa casa sem água canalizada e aprender a tomar banho à caneca de água fria. Nos entretantos, fui desenvolvendo uma técnica rápida e eficiente, no fim dos 2 meses lanço um livro : “Tomar banho à caneca para totós, sem fazer estardalhaço!”. Como viver sem electricidade regular, passo a explicar: a ilha não tem luz, mas a fábrica de gelo aqui do lado tem, então quando eles estão a produzir gelo ligam o gerador e nós temos luz …oh yeah! Mas, como em toda a indústria, a produção depende das flutuações da procura e o mercado do gelo pode ser muito instável… então ora há luz ora não há… Cá por casa também há um gerador que dá para desenrascar, mas não anda de boa saúde, o que faz com haja dias, como ontem, em que se janta à luz da vela e se vai para a cama às 21h30, porque ler mais de meia hora com uma lanterna pode tornar-se muito ca

Dia 1 - Bissau!

O avião partiu à hora prevista… foram 4h até Bissau! Quando saí do avião apeteceu-me gritar: ” África… que cena ”- bom, por acaso, acho que disse, mas baixinho! Eram 1h e tal da manhã e à nossa espera estava a coordenadora de missão e outros dois portugueses (acho que vieram só para nos dar boleia…simpáticos)! Bolama fica a 3h de canoa, por isso, passámos a noite em Bissau, num hotel. Estou bem, o sítio é me “estranhamente” familiar, faz-me lembrar Moçambique, Marrocos… e um bocado da Amadora, as pessoas são simpáticas. O medo passou… na viagem li a carta que Paulo escreveu à igreja de Filipos e fiquei absorvida naquela maneira de estar, no contentamento no muito e no pouco… na alegria de quem sabe que não está sozinha! Depois li o fim da carta de hebreus a começar no 11… e aí como já não tinha medo, comecei a sorrir! Agora estou pronta para a aventura de andar de canoa à chuva (ah pois, estamos na época das chuvas) com a minha mala gigante!! Por agora é tudo, vou emprestar

Vou para a Guiné...

Daqui a 5 horas vou estar num avião com destino a Bissau! Não sei o que pensar, dói-me a cabeça, dormi mal… estou com uma espécie de enjoo cerebral, muita serotonina, adrenalina, dopamina…e outras que tais! Mas estou feliz, sonhei muito tempo com isto! Lembro-me de ter lido, algures no primeiro ano da faculdade, um artigo de um colega que tinha ido a África com a AMI e pensei :”quando eu for grande e do 5ºano também quero!”. Ora, passaram 5 anos, não sou tão grande como gostava de ser, mas sou do 5ºano (quer dizer, agora até sou do 6º ano) e cá estou eu a olhar para a mala que vou levar para a Guiné. Mala essa, que vai cheia de vontade de ajudar e de ser relevante, cheia de desejo de fazer bem e não mal, cheia de repelentes e de anti diarreicos (!), repleta de vontade de crescer e de abrir os olhos para uma realidade tão distante mas tão prevalente, e cheia de medo…de quê? De tudo e de nada…o medo é dos sentimentos mais irracionais e o meu, nem é medo…é medinho, é receio, é inseguran

Nós por cá!

No nosso “Portugal real” há muitas histórias por contar, muitas em que faz falta reparar… reparar e reflectir… Então após estes meses de ausência e depois da insistência de várias famílias, este blog volta à carga, com vontade de estimular consciências, orientações e possíveis colaborações! E só para chatear vou começar pela história que ia contar no fim, então venham daí, mergulhem nesta história comigo! Urgência de otorrino, 11h e qualquer coisa, sol lá fora, doentes à seca há mais de uma hora, (tosse, muco nasal de todas as cores, dores de garganta, miúdos a chorar), eu (vocês a fingir), um colega e o médico com ares de “snob and smart guy” (simpático, mas volta e meia lá sacava perguntas teóricas de difícil resolução só para marcar território). Já está pintado o cenário! Entra uma velhota com uns 200 anos : “então oh Dona Maria (nome fictício …talvez) do que é que se queixa? - Oh Senhor Doutor tenho umas feridinhas que deitam sangue no ouvido e dói-me a garganta e não consigo e

Depois de uma “crise de ausência” …

Voltei! E começo com a frase que mais me fez rir hoje… Contexto socioculturaleconómicotemporalpolíticohormonal…entre outros: no meio de um silêncio já prolongado,alguém com quem mantenho uma relação próxima pergunta: “Olha, os Óscares são no dia 7, não é??! “ - altura em que eu respiro, reflicto se ouvi bem, convenço-me que sim e respondo com seriedade: ”Pah, não sei o meu agente ainda não me mandou nenhum convite!”, e depois claro…escangalho-me a rir (adoro esta expressão, aliás a versatilidade da língua portuguesa é sempre revigorante!). Bom… isto a propósito de quê? Perguntam vocês! Pois… podia ter escrito só pela piada hilariante que produzi em escassos segundos (lol) mas não… Ando com vontade de escrever sobre os Óscares! (Não, não mesmo! Desculpem lá, sei que não é politicamente correcto…mas eu até acho que nunca vi aquilo até ao fim!). Continuando, a vontade é de escrever sobre o fenómeno “a janela do vizinho”… passo a explicar, ultimamente, anda tudo maluco com as redes sociai

A bata_ segunda temporada !

Voltemos então à novela da "bata branca" (ups...é melhor reformular), voltemos à serie do "white coat" ...muito melhor assim, novelas portuguesas só as velhotas desocupadas é que vêem, agora series americanas...opah aí a conversa é diferente!! Ontem foi filmado o último episódio da primeira temporada desta magnífica serie cheia de emoções e calafrios clínicos (ouçam isto com uma emocionante música de fundo, por favor!) que retratam a minha vida de pseudo estudante de medicina! E foi o último, porque ontem tive a última aula prática do semestre... (suspiros), acabaram-se as caminhadas contra a corrente na estação de entre campos e as reflexões metafísicas que daí nasciam (passo a explicar: de manhã, quando ia de metro para o Curry Cabral a maioria das pessoas estava a andar no sentido oposto ao meu o que dava uma espécie de sensação matinal de "remar contra a corrente"...), acabou-se o cheiro indecifrável da enfermaria (as apostas estão entre a ferrugem, o

reflexões urgentes...

Finalmente, comecei a ler o livro do Camus, "a queda", e lá ia eu de manhãzinha (depende do conceito...) no metro a beber o meu café, quando me deparo com a seguinte frase (não aconselhada a menores,pessoas facilmente impressionáveis ou com problemas cardíacos)... precauções à parte... " Cismo, por vezes, no que dirão de nós os futuros historiadores.Bastar-lhes-á uma frase para definir o homem moderno: fornicava e lia jornais. Depois desta forte definição, o assunto ficará, se assim me posso exprimir, esgotado." O Camus pôs uma das suas personagens a dizer isto dos "modernos"! E nós? Os pós modernos ou os pós pós modernos (para quem gosta destas mariquices), o que dirão de nós os historiadores? Palpites? Acho que poderão dizer: " eles relativizavam e ficavam ansiosos"... depois do dia de hoje, isto faz tanto sentido!(como a primeira afirmação é relativa vou só falar da segunda). Estive umas 3h na urgência e entre pernas partidas e cólicas renais

a bata voltou...

e já tinha saudades dela, foram duas semanas de ausência e o "frio" instalou-se! Entre ontem e hoje, essa foi a verdade que saltitou entre os parietais e os frontais! No fundo, no fundo temos uma relação amor-ódio muito ao estilo Hollywodesco quando ela está perto acho que podia ter uma melhor e que, na verdade, ando é a enganar-me e a empatar a minha vida nesta relação...Porém, quando ela bate com a porta e vai embora, fico triste (dramaticamente triste, tipo encostada à porta e a deslizar lentamente) e percebo que a vida sem ela não faz sentido! Bom... fora estes estados de puro amor pela minha linda bata e de completa falta de interesse por ela... na maior parte das vezes temos um casamento feliz (um dia destes compramos uma bimby, que nesta analogia "não muito bem conseguida" poderá corresponder a um daqueles estetoscópios todos "very nice" com MP3 e tudo!). Acabando a, mais uma vez, longuíssima introdução... Eu sei que parece estranho ou bizarro, mas