Então enquanto espero pelo início
da consulta, oiço o meu fundo, observo os dias que passaram e tento passar para
este caderno laranja o que é passível de partilha. Passaram duas semanas desde
o último texto, cheias, recheadas de aventuras e desejo de aventuranças.
No outro dia, dei comigo num
jantar do serviço em casa da chefe, ofereci-me para preparar um prato, mostrar
a gastronomia portuguesa e, finalmente, comer o que gosto! Mas, como tudo na
Índia, foi extremamente difícil! Primeiro, tinha de ser vegetariano, dadas as
especificidades alimentares da religião, depois tinha de encontrar os
ingredientes. Acabei por fazer as minhas courgettes
recheadas (uma espécie de prato de assinatura), que de Portuguesas não têm
nada, mas são vegetarianas, ou pelo menos, desta vez foram, porque
originalmente levam cogumelos, bacon e queijo de cabra. Aqui fiz com cogumelos
(viva os fungos ecuménicos) e paneer (um primo indiano em 4º grau do requeijão).
Cheguei mais cedo e mãos à obra, numa cozinha que não é minha, com um palato
tão diferente dos que habitualmente se sentam à minha mesa. Antes disso fui às
compras, uma linda aventura, trouxe 2 enormes legumes esbranquiçados, parecidos
com courgette, ali algures entre a
abóbora e a courgette. O medo do
pepino só acabou quando as abri ao meio e vi o que se assemelhava ao
pretendido.
Depois lá fui, o prato foi
acontecendo, com olhares de estranheza, com perguntas sobre o conteúdo, um
legume aberto ao meio, sem especiarias, sem óleo, sem molho?
E eu segura! E eu contente!
Escondida atrás da prima da courgette!
A cozinha não era minha, mas são todas parecidas, o prato não é igual, mas é
parecido. Parecido é bom! Parecido é familiar! É bom estar em casa outra vez!
Afinal a fome e a vontade de comer o que nunca se comeu mas cheira bem são
dogmas internacionais.
Voilà! Courgettes recheadas na mesa… E não é que gostaram! Comeram
tudo! E eu sentada no chão a observar, somos todos iguais, mais picante menos
picante. Conversámos, contaram-se histórias, o apetite abriu-nos a boca e o
coração. Boas courgettes!
A Índia vai-se aproximando com
uma abordagem cheia de solavancos. Aqui as relações são difíceis, cheias de
porcelanas, de hierarquias, de preconceitos (?), estranha-se o novo, acolhe-se
com cautela, então com pezinhos de lã, com legumes recheados, sorrisos sinceros
e alguns relatos de aventuras passadas nesta terra incrível, com tudo isto vou
conquistando um espaço, pequeno e apertado como todos os espaços na Índia!
Mesmo quando me perguntam as
coisas mais insólitas, como aquela vez em que um dos médicos mais respeitados
do serviço me perguntou que língua é que os médicos portugueses falavam entre
eles? E que língua é que se fala nas faculdades de medicina? Seguido de uma
cara de espanto quando lhe digo que é Português e não Inglês. (É com cada uma…).
Depois veio o clássico erro, mas não menos engraçado, ao falar de Portugal
alguém cheio de certeza exclama: “Oh como eu gostava de visitar o teu país, o
Rio de Janeiro deve ser lindo!” (Rir dos outros é feio!). E lá expliquei a
geografia da velha Europa. E não, a nossa comida não é como a espanhola
(cruzes, credo!), nem como a italiana, nem como a grega. É nossa e é a melhor
do mundo!
Leitor imaginário, é assim… Vamos
alimentando o povo de “prima de courgette”
e de cultura geral!
Restantes leitores, abraços,
abraços. Falta menos, custa menos! Obrigada pela companhia!
Eu tenho saudades das tuas courgettes recheadas, das verdadeiras.Temos muitas saudades tuas, e gostamos quando partilhas as tuas experiencias. Beijinhos tia Bianca, e muitos abracinhos. AA
ResponderEliminarQuerida amiga,I imagino...que belas courgetes. Se não fossem vegetarianos fazias as bolinhas de alheira! Não sei é se terias a sorte de encontrar uma prima.....nem mesmo afastada. Bjinhos de saudades. Vanda
ResponderEliminarPena não teres tirado fotos da comida!!! :) beijinhos Nuno C.
ResponderEliminarAi a bela da courgete... Para além do mérito do teu trabalho Conquistas pela barriga, assim é que é!! Beijinhos. Enios
ResponderEliminarO Énio sugere que para a próxima faças o rolo de carne!!! ;)
ResponderEliminarComprar carne aqui é uma aventura, é melhor não arriscar... Tenho saudades de cozinhar para vocês!! um grande abraço!
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarGostei da pergunta "que língua é que se fala no teu país"!
ResponderEliminarAnsiosa por ouvir as histórias ao vivo e na 1º pessoa :)
Isabel A.