Há uma sensação de náusea no ar.
Não é só o cheiro a lixo misturado com fezes, urina, animais
das mais diversas estirpes e óleo quente com especiarias dos vendedores
ambulantes; não é só o ar cinzento de nuvens carregadas de chuva, as ruas
emporcalhadas, as pessoas a monte, esfarrapadas, sujas, necessitadas; não é só
a temperatura nauseabunda que cola a roupa ao corpo com suor e poeira; não é só
o barulho ensurdecedor das buzinas, dos taxistas a gritar, dos mendigos, e da náusea
e a náusea faz barulho a mais! Tudo isto
mais a chuva das monções que trouxe a lama, há lama em todo o lado, há um peso
no ar…
Não é só isto… é tudo… Bombaim é a cidade mais feia do mundo
(do meu mundo, pelo menos).
A Índia é quente e suja, mas tem a sua graça… Bombaim também
terá… mas não me lembro!
Contudo, não é a primeira vez que aqui estou! Talvez por
isso seja mais fácil, é mais fácil encarar o conhecido, por pior que ele seja,
do que o desconhecido!
Mas desta vez é diferente, ao olhar à minha volta e ao
contrário de outros episódios desta “aventura”, há uma espécie de paz…estou
descansada! Não faço ideia do que vai acontecer, mas não estou muito
preocupada, vai ser como diziam uns amigos quando estive em Moçambique (há 10
anos atrás?!): “go with the flow!”.
No meio destes pensamentos, tenho a sensação que
voltei atrás no tempo, precisamente há 3 anos estive sentada nesta cadeira no
balcão para estrangeiros de estação dos comboios de Bombaim. Nada mudou, a
mesma cadeira, os mesmos homens indianos a olhar fixamente para quem lhes
parece diferente e as mulheres com os olhos no chão, até o homem do balcão é o
mesmo!
Nada mudou? Não pode ser! Eu mudei! Quando voltei a casa,
depois "desta Índia” já não era a mesma pessoa.
Mas vieram tantas outras coisas: o casamento, o emprego… Até
é estranho chamar emprego ao que faço, gosto mais de trabalho, não sei porquê…
mariquices!
A verdade é que com a mariquice do trabalho veio uma avalanche de
responsabilidade, um peso para o qual não estava preparada e uma sensação de
insuficiência, por vezes, esmagadora, porque nada chega, o estudo, o empenho, a
dedicação.
Tudo isto foi novo e veio com o internato, mas veio também a
confirmação de que gosto mesmo disto, gosto de ser este aprendiz de médico (ou
de feiticeiro!), gosto dos doentes, gosto do hospital, e gosto muito da
urgência (mas não contem a ninguém!)
Esta viagem à Índia surge no meio disto. Não fugi para a
Índia (já tive muita vontade foi de fugir da Índia!), voltei à Índia para
pensar outra vez, para relembrar, para ouvir, ouvir e depois responder.
Esperemos! Um dia, com mais tempo… explico-vos melhor, principalmente a quem
chegou agora aqui a este “tasco existencialista de inspiração contemporânea”!
Então venham e fiquem por aqui… a Índia tem muito para
ensinar!
Leitor imaginário, estou a escrever com uma semana de
atraso… mas tem paciência que tenho já muito para contar!
Um abraço para vocês! (só para quem leu o texto até ao fim!)
Fixe saber o que esta a acontecer contigo/convoces. A orar por este presente/futuro. Beijinhos.
ResponderEliminarMarta Santos