Conseguimos bilhetes
de comboio para Vellore no mesmo dia que aterrámos em Bombaim! Que sorte!
Descansámos, tomámos banho e partimos durante a noite.
28h num comboio
indiano! Parece horrível, cansativo… o pior, não é? Mas não é!! Não é, não! A
sério, foi revigorante, não sei se vos vou conseguir explicar, mas vou pelo
menos tentar.
Imaginem-se num comboio velho e feio, com ares de pouca
manutenção, cheio de pessoas cujo padrão de higiene e limpeza é bem diferente
do ocidental (bom, agora não pensei mais nisso e o relato continua!).
Agora a sério, imaginem-se
num compartimento com ar condicionado (ah pois, já não sou estudante e também
só me enganaram uma, vá duas vezes!), onde cabem uma espécie de 4 beliches,
dois de cada lado, as camas são duras, há algumas baratas (poucas), mas o
espaço é limpo várias vezes por dia em horário, um tanto ao quanto, aleatório.
Quanto aos serviços disponíveis temos casa de banho
privativa, internet e café grátis! Ah, ah, também não abusem!! Há casa de banho
no fim da carruagem, com um ar péssimo, daquelas com o dito do buraco no chão e
que me fez racionar toda a água que bebia. No que toca a comer, bom se vocês
forem indianos como deve ser levam a vossa marmita e enchem o comboio de
cheiros indiscritíveis, se forem uns reles estrangeiros como nós olha, comem o
que vai aparecendo com os vendedores ambulantes, bananas e chá não vos vão
faltar!!
Feito o retrato do ladrão, resta explicar o crime… foi uma
experiência de verdadeiro descanso!
Não há nada para fazer! É tão bom não haver nada para fazer!
Imaginem-se um dia inteiro sem nada para fazer, principalmente, coisas que
incluam eletricidade ou atividades recreativas. É assustador? Estar 28h à
espera de chegar a um sítio? Talvez! Mas foi bom!!
Porque houve espaço para
desintoxicar do peso das responsabilidades, dos horários, das listas de
tarefas, nós só tínhamos de esperar! Então conversa-se, dorme-se, olha-se à
volta e volta-se a olhar (contempla-se?), fica-se em silêncio, lê-se muito e
depressa (é um velho vício, li o Claraboia do Saramago duma acentada só, há
quanto tempo é que não lia um livro inteiro no mesmo dia, provavelmente desde a
Guiné!), joga-se às cartas e ao dominó (e consigo perder quase sempre), fala-se
do futuro, lembra-se o passado, conversas demoradas, mastigadas, com silêncios…
porque temos tempo, porque ainda não chegámos!
Conseguem imaginar?
O comboio parou, chegámos a Vellore.
Continua igual, o Hospital continua a ser o centro da cidade
e é lá que vamos amanhã e depois… tentar a nossa sorte!
Leitor imaginário, não te esqueças de aproveitar as férias
para tentar ouvir, tentar descansar, ou então só para ficar à espera…É um
perigo andar sempre a correr, além de tropeçar, pode dar-se o caso de nos
pormos por aí feitos loucos atrás do vento e da ventania!
Um abraço para todos e espero que a nossa próxima conversa
seja num Hospital Indiano, isso é que era!
só para dizer que li!
ResponderEliminarBoas e Abençoadas aventuras. Bjs
ResponderEliminarSónia Carolino