Foi com a mochila às costas e um bilhete de comboio no bolso que deixámos o centro que foi a nossa casa nas últimas semanas. O centro e as pessoas! E essas é que interessam, porque é delas que vamos ter saudades, das minhas “tias” e da aula de Inglês - Hindi em que sentadinhas em roda de perninhas à chinês aprenderam 5 perguntas em Inglês, os números, as cores, com jogos, com gargalhadas, com histórias da Bíblia, aprenderam elas e aprendi eu (e nunca mais me vou esquecer das lições que me ensinaram)!
Há vários momentos preciosos que vou guardar, a última aula, é de certeza um deles, comprámos um bolo de chocolate, grande e vistoso, um daqueles bolos de anos com flores de açúcar e enfeites de chantilly, para comemorar a última lição, para dizer: “gostamos muito de vocês!”. Em resposta houve muitos abraços, agradecimentos, fotografias, e a frase que mais me ficou na memória, foi quando uma delas me chama e a olhar bem nos meus olhos diz: “Prianka (um nome comum na Índia e que se tornou o meu novo nome), Prianka, I you love very much!” – um Inglês mal amanhado mas que encheu o meu dia, o que lhe faltou em gramática sobrou-lhe em ternura. Estou feliz! Uma felicidade sem arrepios, que em pouco ou nada se assemelha à felicidade que nos vendem na televisão, aquela que vem embrulhada em caras bonitas, corpos de ginásio, telemóveis topo de gama e umas quantas latas de cerveja, esta felicidade é mais parecida com aquela que o Mestre descreveu no monte, uma felicidade cheia de boas aventuras!
E é entre a Índia que já vimos e a que está por ver que entrámos no comboio rumo a Vellore, comprámos um bilhete de “gente fina”, numa cabine com ar condicionado e com lugar só para 4 passageiros; porque não havia bilhetes de “gente normal” disponíveis, daqueles com ar naturalmente quente e sem cabine. E a culpa é do Diwalli, o festival das luzes, uma celebração Hindu em honra de uma deusa qualquer, que dá direito a feriado e a férias escolares, logo toda a minha gente aproveita para passear e esgotar os bilhetes de comboio, o que vale é que quando toca a férias os ecuménicos é que ganham!
As 28h de viagem foram bastante engraçadas, a maior parte do tempo partilhámos a cabine com uma senhora e mais duas crianças que dividiram o tempo entre as brincadeiras, as birras, as lutas pelos lápis de cor… enfim, aventuras! A acrescentar à animação tivemos os variadíssimos vendedores de chocolates, garrafas de água, batatas fritas, gelados, chá que apareciam intermitentemente e sem qualquer regra. Aliás esta é, provavelmente, uma das características mais marcantes de países em desenvolvimento como a Índia, a falta de previsibilidade, aqui é difícil fazer planos, organizar, prever, porque tudo depende… Depende se chove, depende das marés (ai Guiné, Guiné), depende se há electricidade ou não, depende da vontade de quem manda, depende… Até beber água ou comer uma banana no comboio vai depender se o vendedor certo passa quando eu preciso, porque não há uma loja, não há um botão, não há um horário, nem sequer há uma ementa. Isto é, de certo modo, trágico porque impede o crescimento do país, mas por outro lado tem a sua piada, e se conseguirmos despir a nossa casca ocidental vamos conseguir também desfrutar da imprevisibilidade e da alegria de ver o homem do chá passar, precisamente quando nos apetece um chá! E se fizermos o esforço contínuo de entrar realmente no “espírito da Índia” e deixar de lado o ocidental que há em nós, aí sim vamos aproveitar a viagem e o comboio! E mesmo depois de ter dormido no comboio, desconfortável, numa caminha dura, e de ter visto 3 baratas a passear demasiado perto da minha cama, apesar disto fiquei contente quando vi passar o homenzinho a vender omeletas com pão, e continuei contente, quando descobri que a bela da omeleta, além de óleo com fartura, tinha malaguetas cortadinhas aos bocadinhos lá no meio, as quais retirei com cuidado de modo a poder comer o resto do pequeno-almoço com o chá que passou a seguir!
Leitor imaginário, no fundo, a Índia é assim, dá trabalho a tirar o picante, mas há muito para desfrutar, e agora só falta descobrir o que é que Vellore tem para ver!
Um abraço aos restantes leitores, espero que continuem a viajar connosco!
Há vários momentos preciosos que vou guardar, a última aula, é de certeza um deles, comprámos um bolo de chocolate, grande e vistoso, um daqueles bolos de anos com flores de açúcar e enfeites de chantilly, para comemorar a última lição, para dizer: “gostamos muito de vocês!”. Em resposta houve muitos abraços, agradecimentos, fotografias, e a frase que mais me ficou na memória, foi quando uma delas me chama e a olhar bem nos meus olhos diz: “Prianka (um nome comum na Índia e que se tornou o meu novo nome), Prianka, I you love very much!” – um Inglês mal amanhado mas que encheu o meu dia, o que lhe faltou em gramática sobrou-lhe em ternura. Estou feliz! Uma felicidade sem arrepios, que em pouco ou nada se assemelha à felicidade que nos vendem na televisão, aquela que vem embrulhada em caras bonitas, corpos de ginásio, telemóveis topo de gama e umas quantas latas de cerveja, esta felicidade é mais parecida com aquela que o Mestre descreveu no monte, uma felicidade cheia de boas aventuras!
E é entre a Índia que já vimos e a que está por ver que entrámos no comboio rumo a Vellore, comprámos um bilhete de “gente fina”, numa cabine com ar condicionado e com lugar só para 4 passageiros; porque não havia bilhetes de “gente normal” disponíveis, daqueles com ar naturalmente quente e sem cabine. E a culpa é do Diwalli, o festival das luzes, uma celebração Hindu em honra de uma deusa qualquer, que dá direito a feriado e a férias escolares, logo toda a minha gente aproveita para passear e esgotar os bilhetes de comboio, o que vale é que quando toca a férias os ecuménicos é que ganham!
As 28h de viagem foram bastante engraçadas, a maior parte do tempo partilhámos a cabine com uma senhora e mais duas crianças que dividiram o tempo entre as brincadeiras, as birras, as lutas pelos lápis de cor… enfim, aventuras! A acrescentar à animação tivemos os variadíssimos vendedores de chocolates, garrafas de água, batatas fritas, gelados, chá que apareciam intermitentemente e sem qualquer regra. Aliás esta é, provavelmente, uma das características mais marcantes de países em desenvolvimento como a Índia, a falta de previsibilidade, aqui é difícil fazer planos, organizar, prever, porque tudo depende… Depende se chove, depende das marés (ai Guiné, Guiné), depende se há electricidade ou não, depende da vontade de quem manda, depende… Até beber água ou comer uma banana no comboio vai depender se o vendedor certo passa quando eu preciso, porque não há uma loja, não há um botão, não há um horário, nem sequer há uma ementa. Isto é, de certo modo, trágico porque impede o crescimento do país, mas por outro lado tem a sua piada, e se conseguirmos despir a nossa casca ocidental vamos conseguir também desfrutar da imprevisibilidade e da alegria de ver o homem do chá passar, precisamente quando nos apetece um chá! E se fizermos o esforço contínuo de entrar realmente no “espírito da Índia” e deixar de lado o ocidental que há em nós, aí sim vamos aproveitar a viagem e o comboio! E mesmo depois de ter dormido no comboio, desconfortável, numa caminha dura, e de ter visto 3 baratas a passear demasiado perto da minha cama, apesar disto fiquei contente quando vi passar o homenzinho a vender omeletas com pão, e continuei contente, quando descobri que a bela da omeleta, além de óleo com fartura, tinha malaguetas cortadinhas aos bocadinhos lá no meio, as quais retirei com cuidado de modo a poder comer o resto do pequeno-almoço com o chá que passou a seguir!
Leitor imaginário, no fundo, a Índia é assim, dá trabalho a tirar o picante, mas há muito para desfrutar, e agora só falta descobrir o que é que Vellore tem para ver!
Um abraço aos restantes leitores, espero que continuem a viajar connosco!
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