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A mostrar mensagens de março, 2016

A festa continua!

A pediatria continua cheia de porcelanas.  É difícil sair dali sem perder um caco, sem um risco, sem uma lasquinha na ilustração, o coração sente a fragilidade a que não está habituado. Mas continuo, insisto nesta jornada que começa na razão da febre e termina na razão do abandono, do abuso, da injustiça.  Continuo? Vou tropeçando nas histórias, mas continuo. Vou chorando em sístoles disfarçadas, mas continuo. No entanto, há dias em que continuar é mais fácil, há pessoas que me empurram para a frente quando me pesa o choque da injustiça na barriga das pernas.  Trago-vos um destes empurrões na esperança que caminhemos mais juntos: A Dra. Y, a chefe da enfermaria, muito simpática, com um sotaque delicioso, com a experiência que muitos anos de pediatria, num país cheio de assimetrias, foram acrescentando. A manhã começou com a visita médica, discutimos todos os casos, tiram-se dúvidas, ela faz perguntas, as respostas vão aparecendo entre silêncios cúmplices. E aparece a doente X

Amanhã é dia de festa!

Acabei agora de tirar do forno um bolo. A casa cheira bem, cheira a confortável, o bolo está bonito, falta a cobertura de chocolate e as bolinhas coloridas, mas acho que no fim ficará um bonito bolo de aniversário! Amanhã é dia de festa na enfermaria de pediatria, um menino faz anos e nós vamos fazer uma surpresa, vai haver bolo, brigadeiros, e até um hamburger do MacDonald´s! Enquanto escrevo isto imagino a festa que aí vem sorrio e fico contente por poder participar! Ao mesmo tempo pesa-me o sorriso e o olhar resvala para a tristeza. A festa é especial, porque o motivo é especial, este menino é o mais especial de todos, gostava tanto que ele soubesse isso, este bolo de cenoura é a minha maneira de dizer isso… espero que ele entenda. A história que aí vem é triste, escura e feia. Nem sei se a devia partilhar convosco, será que a vamos entender? Ou vai ser só a desgraça alheia, como quando abrandamos o carro para ver um acidente (Quem bateu? Quantos carros? Há sangue?). Ess

Ainda vamos a meio!

  O dia está cinzento, volto do trabalho, estou cansada, talvez por isso o desenrolar lento dos passos, ou talvez porque chegar será igual a sentar-me a estudar. Não me apetece chegar! Então vou andando, este caminho já não me é estranho, conheço-lhe os detalhes, já sei que ali o pão não é bom, mas as mangas são (caras!) mas ótimas, um verdadeiro paraíso das mangas. E mais à frente, o pão é melhor e os bolos também, depois ao virar temos a frutaria orgânica, nunca tem mangas, mas tem dióspiros e laranjas da Bahia sempre doces, feios e pequenos se não os “orgânicos” levam a mal! Assim se passa um mês e meio! Aprendi as manhas da fruta e do fiambre que aqui não é fiambre é presunto, tenho sempre de repetir as frases e de preferência cantadas em português do Brasil, descobri que toda a gente gosta do meu sotaque e que todos os brasileiros têm um familiar português (seja uma tia, primo, afilhado, o vizinho da vizinha) e que sítio não é lugar, mas sim uma grande quinta! Comecei

A Epifania do Bonete!

Acordei com vontade de partilhar isto convosco, esta ideia anda a moer-me há demasiado tempo, ela vai aparecendo no meio dos meus pensamentos, vai espreitando, insinua-se, não explode, não dói, mas pica, incomoda, perturba, uma pedra no sapato, das pequeninas, como todas as angústias existenciais devem ser. Tudo começou numa daquelas caminhadas loucas que vão dar à praia mais bela do mundo, com as cachoeiras mais majestosas, e tudo imperdível e mais meia dúzia de elogios, passarinhos e bichinhos tropicais, pronto, lá me enganou… como sempre! Então sapatinhos de caminhada, calças (ah pois, porque as picadas de mosquito do dia anterior ainda estavam na memória e nas perninhas), repelente, protetor solar (difícil é decidir qual pôr primeiro!) e lá vamos nós… 24 km… (em distância total, mas o acordo era ir até dar, eu já vos disse que sou sempre enganada com estas falinhas mansas!). Uma subida para começar, lama da chuva de ontem, pedras, resumindo: “o mato!”, Eu a caminhar com c