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A aventura continua… por terras indianas

Os primeiros dias foram cheios de adaptações umas mais dolorosas do que outras,mas todas cheias de um encanto que não estava à espera de encontrar… um dia destes explico-vos isto melhor!


Começámos por perceber como é que o centro funciona, que actividades é que existem, quem é que é o responsável pelos vários departamentos e depois veio a pergunta essencial: “Então, onde é que podemos ajudar?” e a resposta veio rápida e certeira e num instante transformou- se em várias actividades e responsabilidades, afinal não viemos passear… Graças a Deus!


O André ficou com os rapazes que estão no programa de recuperação da toxicodependência, vai estar perto deles, vai aconselhá-los, e vai ensinar-lhes algumas competências pessoais e sociais usando princípios bíblicos (as famosas aulas do Desafio Jovem). Ah, e acrescentar a isto, ele também anda a pensar em construir um forno, para que se possa fazer pão aqui no centro e assim poupar dinheiro.


Eu, por outro lado, não fiquei com nenhuma área específica, eles pediram-me para dar as aulas de competências pessoais e de iniciação ao cristianismo às raparigas mais recentes no centro. Então todos os dias de manhã tenho um grupo bastante variado, composto por adolescentes que viviam na rua, órfãs, adolescentes que foram resgatadas dos bordéis e mulheres (entre os 25 e os 40 anos) que também vieram da prostituição forçada. E o objectivo é ajudá-las a compreender o cristianismo no meio de uma cultura que transborda deuses e altares, sem nunca o impingir, sem nunca forçar a fé, apenas explicar a mensagem e deixar a porta aberta. Isto tem sido espectacular, a maior parte das vezes falamos sobre amor, sobre aceitação, sobre a oportunidade de começar outra vez… Isto só por si é bom e é importante que todos nós nos sintamos amados e aceites, mas não se esqueçam que estas meninas e estas mulheres foram vendidas, rejeitadas, abandonadas, espancadas, violadas… sofreram uma infinidade de atrocidades. Esta realidade, aumenta em grande medida a necessidade de lhes ensinar que elas são preciosas, que elas são importantes, que elas são princesas! Houve uma aula em que falámos sobre a maneira como Deus nos vê, vocês deviam de ter visto a cara delas quando lhes disse que Deus quando olha para elas vê uma princesa… indescritível! No fundo, é por causa disto que estamos aqui, é por causa delas e deles, é numa tentativa de trazer justiça a este mundo caído.


Mas não acaba aqui, a seguir a esta aula, começa a aula de inglês das “tias”, as “tias” são as mulheres que vieram da prostituição forçada, umas fugiram outras foram compradas pelo centro, a maioria tem o corpo marcado pelos anos de escravatura, estão gastas, enrugadas, envelhecidas. Mas nem todas, há algumas que ainda são bonitas e cheias de juventude, mas todas sem excepção têm dificuldades de aprendizagem, nenhuma foi à escola, foram vendidas antes de terem essa oportunidade (silêncios… vários!). Então, para tentar resolver esta situação elas têm várias aulas, e a mim pediram-me para lhes ensinar inglês, mas só o elementar, mas avisaram-me que tinha de ser dinâmico, mesmo muito, como se fossem crianças, se não aborrecem-se e não aprendem! O desafio foi aceite, e as aulas começaram, mas fiz um negócio com as “tias”, eu ensino-lhes inglês e elas ensinam-me hindi… que maravilha! Sorriram e concordaram, ensinar alguma coisa a outros traz sempre auto estima, e isso é uma coisa que faz muita falta por estas bandas! Na primeira aula começámos com o “what is your name?”, mas primeiro elas ensinaram-me a pergunta em hindi... e a risota começou e só parou com o fim da aula, e vê-las rir encheu-me o coração! E pode parecer estranho, mas os sorrisos delas facilitaram a refeição que se seguiu, porque apesar da comida aqui ser demasiado (mesmo) picante para mim, vale a pena… e o meu aparelho digestivo há-de habituar-se…esperemos!


E isto é uma parte do que andamos a fazer por aqui… o resto fica para a próxima história!

Um abraço para todos!
Leitor imaginário, tu já sabes que para ti o abraço é sempre especial!

Comentários

  1. :) Há sempre coisas para fazer! Realmente os fazedores é que são poucos! O que me irrita nisto são os homens e mulheres que contribuem para as calamidades que falaste! e os ocidentais (pessoas que conhecemos) têm parte nisso! Abraço!!

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  2. Abraco Nuno!! espero que a tese tenha corrido bem!! e que o casamento seja espectacular!

    Bianca

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  3. Eu li e venho comentar! Só que é difícil porque é tudo tão grande que as palavrinhas vindas deste Portugal pachorrento pouco acrescentam. Ansiosa por te ver de novo e ouvir todas essas histórias pela tua boca e olhos. Um abraço*

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  4. Os meus dois últimos meses de Harri vão ter um gostinho especial ao ler as tuas aventuras! Admiro-te a coragem! Beijinho grande* Sofia Corado

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  5. gosto de vos saber por ca... abracos

    e bom estudo para quem anda as cabecadas ao harry!

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  6. Uau... Eu ia gostar de estar ai.

    Bianca e André um grande abraço.

    Estou a orar por voçês.

    Marcos Oliveira

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