“Panaceia” - esta palavra não me sai da cabeça, há dias que anda aos gritos dentro de mim, oiço-a por todo o lado, nos meus sonhos, nos meus esforços, na minha rotina e quando abro a janela do meu mundo, ela está do lado de fora a dizer-me : - “Adeus”- com um sorriso rasgado.
Se for ao cinema ela é a actriz principal, se prestar atenção às letras das canções é sobre ela que cantam, se perguntar ao senhor importante qual a razão das suas horas extraordinárias ele vai dizer em voz off : - “panaceia”, e se interrogar a senhora que limpa as escadas do meu prédio ela vai dizer que: - ” A razão, oh menina, a razão tem um nome – panaceia!
E afinal o que é que significa esta palavra?
Bom, no grego e para os gregos ela representa “ a cura de todos os males”, uma espécie de milagre, de super tónico, um espinafre ultra poderoso!
Mas aqui para nós (e já que ninguém nos ouve) ela terá outras irradiações, comecemos pelo cinema, em Hollywood panaceia quer dizer Romance, mas uma coisa de qualidade, com chama (!), duas pessoas com muito bom aspecto, cabelos brilhantes, sem rugas, sem imperfeições, com as frases estudadas para o momento e a música a condizer com as emoções. Nas canções, a panaceia rimará com um amor que era impossível mas que deixou de ser, ou com sonhos tornados realidade. Para o senhor importante a “cura de todos os males” é a segurança que ele sente quando olha para o extracto da conta, ou quando recebe os aplausos de vários anos de trabalho árduo. Para a senhora da escada a cura virá dum marido que, de uma vez por todas, a trate com respeito, de filhos a endireitar-se na vida, duma ida semanal ao cabeleireiro. Para o estudante universitário a panaceia será passar a todos os exames de modo rápido, indolor e de preferência sem estudar, tudo isto seguido de uma festa poderosíssima! Já os males das famílias modernas serão sarados numa ida ao IKEA: “com um sofá novo, aquela estante e aquela saladeira, aí sim, vamos ser muito mais felizes, ah e não te esqueças daquele pote, temos de ter aquele pote!”
Na verdade, todos nós ansiamos pela cura para os nossos males, e desejamos encontrá-la num só sítio e em doses industriais, procuramos em vários embrulhos: num percurso académico brilhante, numa carreira promissora, num casamento estável, num carro novo, numa viagem ao Cambodja, no último livro de auto ajuda, na última noitada… seria uma lista infindável…
Contudo, temos um problema, a panaceia … esgota-se! O sofá ganha manchas, o namorado fica gordo, os filhos portam-se mal e não querem estudar, a carreira não é o que sonhámos. A vida, por vezes, é feia e cheira mal! E falta, falta sempre qualquer coisa… até porque depois de provarmos, a panaceia sabe a inacabado, a insuficiente, a vazio…ou a vaidade, como o Rei sábio gostava de lembrar! E por falar nele, algures na sua “antologia poética” ou no Eclesiastes, como gostarem mais, existe a frase: “(…) também pôs na mente do homem a ideia da eternidade (…)”
No meio de tantos frascos e elixires, se calhar a panaceia é um mito, uma história mal contada, é provável que não haja remédio para todos os males, até porque, como dizia o outro, “há males que vêm por bem!” e não ganhamos muito em curá-los… Mas então? E a eternidade? Será ela a resposta para tal insatisfação, para este desconforto existencial? Fica a pergunta mas não fica a retórica, esta questão exige resposta, se não a corrida pela panaceia nunca terá fim… e não há necessidade de andar a correr atrás do vento!
Leitor imaginário, o texto de hoje é para ler com dois copinhos de água… para não te engasgares… mas é com este tipo de incómodo que nos mantemos conscientes, orientados e colaborantes… e já lá vai um ano! Hoje aqui o “tasco” faz um ano!
Aos outros leitores, uma boa noite e espero que este “espaço” estimule as conversas com copinhos de água…é para isso que cá estamos!
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