Volto a sentar-me aqui, a mesma mesa! Imagino-vos sentados,
do outro lado do mundo, à minha frente. A conversa começa devagar, amanheceu há
pouco tempo e ainda cheira a café, o bebé adormeceu e a T. foi com o pai às
compras, fiquei sozinha com vocês.
Os pensamentos correm em fila para a avaliação, passou um
mês, conseguimos um mês, sobrevivemos um mês e descobrimos tantas coisas.
Realmente foi ano novo, vida nova, e é tanta a novidade que
ainda me sinto tonta da viagem. No entanto, esta já é a nossa casa, já tem as
nossas rotinas, conhece-nos o cheiro e as vontades. Claro está que faltam
coisas, falta aquele resto de queijo de Azeitão que sobrou de ontem à noite,
falta o pão do Chico pela manhã, a sopa da avó, o chouriço enrolado em película
no frigorífico que acabará por ir para o lixo, a sobremesa que ficou do jantar
de amigos de há 2 dias, as nódoas na toalha, o chão por limpar… Faltam-nos as
pessoas e o barulho delas (silêncio). Faltam e faltarão, até que um dia, ou
dia-a-dia, aparecerão novas pessoas, vocês vão continuar a faltar, mas a casa
estará cheia outra vez, uns nesta mesa e outros aí do outro lado do mundo.
E, enquanto, esperamos estamos a aprender a viver de um modo
mais simples, aderimos de tal maneira à moda do destralhar que em vez de nos
desfazermos daquilo que não nos fazia feliz, foi tudo pela janela fora e veio
só a roupa do corpo (mais umas malinhas de cabine!).
Uma vida mais simples, menos boémia, com mais silêncios, bem
mais sóbria, mais desconfortável. O rei sábio dizia “numa casa onde há luto, há
sabedoria”, aqui por casa vai havendo lutos e lágrimas por pequenas coisas que
por vezes parecem enormes: as nossas pessoas, a casa, o tempo fresco, o sofá, o
colchão (lágrimas!), o chuveiro (lágrimas novamente)… Mas também é verdade que a
tal sabedoria tem aparecido no meio dos silêncios, das leituras, das conversas
depois do jantar, nos olhares trocados. Estamos a aprender a viver noutro
ritmo, mas com a mesma letra: “Ebenezer!” e assim continua a viagem.
Leitor imaginário, o silêncio dos dias trouxe este texto
meio molengão encostado à melancolia, mas não te preocupes que também nos vamos
rindo por cá.
Nem imaginas o que eu já me ri a tentar comprar um penico para a
miúda…impossível! Já corremos várias lojas e nada… o potty training, como quem diz “a capacidade de discernir o quando, o
como e o porquê da utilização do penico” não lhes assiste. Amanhã voltamos a
tentar… darei notícias!
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