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A mostrar mensagens de abril, 2016

Deu tudo certo!

A mala está semi-feita, faltam as coisas pequenas, falta fechar, despachar e partir. É bom partir para casa, mas é difícil fechar este ciclo. Atrás de mim ficam as histórias, as pessoas com quem aprendi a ser bem mais que médica, ficam as coisas que só poderia ter vivido num país virado para o sol e para os sorrisos abertos. Elas ficam e vêm comigo no coração, porque a mala já tem excesso de peso, trago o que sou agora e que não era há três meses atrás.  Aliás, essa é a beleza desta experiência, vou provavelmente esquecer-me dos critérios do síndrome hemofagocítico, mas dificilmente da médica que deu chocolate e coca-cola à menina que tinha uma sonda naso-gástrica, dos meninos da enfermaria, dos adolescentes da consulta, isto tudo vai comigo e irá para onde eu for! Escrevo isto com o peito apertado, aquele desconforto na garganta, um incómodo que não sei explicar, no fundo estou ansiosa de chegar e a rebentar de saudades e ao mesmo tempo triste por deixar isto tudo para trás.

Mais um dia de consulta

Hoje escrevo de uma assentada só, o tempo escasseia e as vivências transbordam. Faltam só uns dias para partir e nestas páginas já faltaram 3 meses. É com um sorriso que olho para trás e sussurro entre dentes: “deu certo” como diriam estes meus novos amigos. É neste ambiente de “fazer a mala” que vos trago as histórias de hoje que na verdade são da semana passada, que vão sendo dos anos que passam pela vida destas crianças, as histórias têm nome, bochechas e birras, são pequenas, umas com final feliz, todas em construção, assim como os seus protagonistas. A consulta de pediatria começa devagar, um resumo do doente antes de entrar na sala, vêm à baila as histórias da infeção, este apanhou o HIV na barriga da mãe que nunca tomou a medicação, aquela menina foi abusada, aquela criança desconfiamos que também… e continuam as histórias que tornam as sístoles rápidas e secas, batimentos duros que lutam com a injustiça, os olhos pestanejam, as mãos arrefecem e a criança entra no gabine

Às voltas na pediatria

Ando às voltas com este texto, enrolado nas pontas do pensamento, sem fim, sem meio, mas com vontade de ser dito. Um dia sonhei ser voz de quem não a tem, uns pela falta de boca e outros pela falta de ouvidos e atenção, um sonho daqueles que não se contam a ninguém, uma inconfidência, uma janela demasiado alta para quem só tem dois pés e duas mãos. Um dia, dois dias, três dias, agora já não tenho 14 anos, mas ficaram os sonhos, vieram as viagens pela medicina e pelos trópicos e vim parar ao Brasil. Cá ando eu de coração cheio, olhos arregalados, vontade de saber mais e ser mais, e o sonho volta! Incomodada escondo-me, ocupo-me, distraio-me, procrastino, finjo, lembro-me que o problema não é meu, a história não é minha, a voz não me diz respeito. E o sonho volta, pedrinha no sapato, esta vontade de justiça, esta ânsia de reconstrução, este querer contribuir. Com o quê? Com a voz, com a história, com a lição e com o pedido de ajuda, com o pão e os peixinhos. E porque continuo incomodad